domingo, março 05, 2006

Hoje mesmo


© Pedro Araújo


















.....Sinto que hoje mesmo vou deitar-me no teu peito, entre teus seios ofegantes, germinando o teu odor na minha respiração lenta, e vou escutar a mesma canção que procuro desde que fui gerado, batendo só para mim num compasso infinito, e não tirarei mais a minha cabeça do peitoril da janela das nossas almas.

segunda-feira, fevereiro 27, 2006

Já não me lembro

© Pedro Araújo



















.....A verdade é que já não me lembro dos teus beijos. Daqueles do início, em que escorria da tua boca a violência intensa do teu amor - uma violência pacífica, mas atordoadora, uma necessidade frenética, um impulso despótico, uma submissão feudal.

.....Ensinaste-me a gostar de tudo. Até de ti. Dos teus beijos.

.....Procurei-te em vão em todos os portos; procuro-te desde que partiste sem mim. Telegramas que enviei, recebidos pelo imenso vazio sem resposta.


.....Perdi-te... Tu cristalizaste a dor em mim.

domingo, fevereiro 26, 2006

És demasiado para mim

© Pedro Araújo













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Quando entro em ti envolves-me com a violência pacífica de um oceano quebrado, quase mortífera de tanto me quereres, quase suicídio de tanto querer estar em ti.

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Ris-te para mim. Choras. Por vezes, o som dos teus passos a retroceder entre a pedra e a parede. Ainda o som da tua voz. Das tuas vozes - quase não te reconheço, mudas de voz a cada minuto, és intensa, mas sei que és tu porque há uma voz tua só para mim, tão minha que me preenche como gotas de chuvam que gesticulam as tuas palavras nos meus olhos, enquanto sorris dançando nos parapeitos das janelas.

.....De tanto te querer chego a ter medo de entrar em ti. Há muito que te percorro, mas ainda te desconheço demais para deixar de sentir como se fosse a primeira vez, eu todo medo, reduzido ao infinito de mim mesmo no início do fim de ti própria.

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És demasiado grande para mim. Por isso te olho da janela. Te namoro.
.....Aqui não me chega o teu cheiro, e se quiser nem mesmo a tua imensidão. Só a tua voz, que se filtra até mim em mil cadências, por entre as pedras, as paredes e as janelas, e entra em mim com a coragem que eu não tenho para entrar em ti.

sábado, fevereiro 25, 2006

A cidade é o meu vício


© Pedro Araújo









.....Gostaria de ter apenas janelas no meu quarto… De ver os quatro cantos da cidade, deslindar o amanhecer e conseguir entender o que acontece às casas quando o sol faz as suas sombras tocarem obscenas umas nas outras, entardecendo e trazendo uma escuridão que não deixa ver o que acontece depois, nem quando entre as nuvens aparece uma lua concupiscente.

sexta-feira, fevereiro 24, 2006

Abertura

© Alwyn R Coates

















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O amor é como seda. Quero cerzir os fios que se romperam entre nós.

.....É madrugada. Esta dança tem que terminar; mas o meu sonho de ti não termina, corre como um rio.
.....E o sol está a nascer.